Vulture (O Urubu)

Essa imagem sem dúvida corta o coração de quem a vê e meche com a cabeça dos mais fracos. Uma criança africana morrendo de inanição e a sua espreita um urubu esperando sua morte para atacar os restos mortais que sobrarem daquele corpinho.
Toda imagem fotográfica constitui um ícone elementar da realidade que nos rodeia, com maior ênfase do que a própria pintura. Desde o início da fotografia (1839), discute-se sua função artística, pois, como pode uma imagem tão objetiva ser tida como uma obra de arte?
Naqueles anos tinham a fotografia como um espelho da realidade e com o passar do tempo descobriram como uma imagem captada poderia causar uma série de reações e sentimentos. Tanto que o fotografo dessa foto “Kevin Carter” declarou que se sentia aborrecido com aquela fotografia:


- "É a foto mais importante de minha carreira, mas não estou orgulhoso dela, não quero nem vê-la. Odeio-a. Ainda estou arrependido de não ter ajudado à menina...”.


Quatro meses depois, acabrunhado pela culpa e conduzido por uma forte dependência às drogas, Kevin Carter suicidou-se.
A imagem captada pela lente da máquina desse fotógrafo é um exemplo de inter-relação entre os meios, que avassala toda nossa sociedade como nossas mentes.
No momento em que Kevin Carter estava ali na disputa de sobrevivência entre o urubu e a pequena criança africana, não pareceu tão chocante quanto a imagem por ele revelada ao mundo, causando uma overdose de sentimentos complexos, atingindo toda uma sociedade, composta por pessoas diferenciadas, não por habilitações especializadas ou por sinais visíveis, mas por suas singulares misturas emocionais.
Que por tão simples ironia, proporcionou ao fotógrafo em 1994 o prêmio Pulitzer de fotografia.


Abraços

Marcos Bortolato