domingo, 13 de abril de 2008

A arte tentando imitar a vida, segundo Aguinaldo Silva



Continuando...

Interpretar a sua estória, a sua novela, não carece apenas em ler William Shakespeare ou Jorge Amado, mas ler a vida, mais ou menos como ela é. Ele já escreveu muitas novelas e minisséries clássicas, algumas ajudou na criação. Esteve ao lado de outros adaptadores para decidir quem matou Odete Roitman, fazendo o Brasil parar em 1989. Eu gosto do jeito de escrever deste cara, aqui está alguns de seus trabalhos: Tieta, Riacho Doce, Fera Ferida, Suave Veneno, A Indomada, Porto dos Milagres, Roque Santeiro, e Senhora do Destino.

Ele escreve, assim como vê o seu povo, o seu Brasil. Bordões famosos como: "Muita calma nessa hora"; "Êpa, êpa, êpa";"Justamente..."; "Aquela vassoura de piaçava!"; "Presta atenção sua cabrita"; "Ô xente my good"; "Vâmo nhã nha, meu amor?", " Anta nordestina!", "Eu ainda vou pegar o fígado daquela cachorra sarnenta e cumê com minhas próprias mãos"; "O sr, anderstende?"; "Eu fui atacada pelo cadeirudo!"; "Oxi, será que era o sufocador?"; "Aquela maria louca!"; "Quem aquela girafa pescoçuda pensa que é?"; "Sua lacraia miserável!"; "A notícia já se espalhou como rastilho de pólvora",e tantos outros, são inesquecíveis. Claro, que nem sempre o povo fala assim e que a cenografia da portelinha não coincide com muitas favelas deste Brasilzão, no entanto, fica claro, observando toda sua obra, que cada detalhe é simplesmente muito aguinaldiano. Afinal, cada autor tem a sua interpretação, visão de mundo,para contar a sua estória.

Ele leu Jorge Amado (Mar Morto, Tieta), mas se você ler os livros, na certa vai perceber que o saldoso escritor baiano, tem o seu estilo de ver o mundo e a sua terra, a Bahia. A perpétua era sim uma personagem do livro, irmã da protagonista. Obviamente, segundo Jorge Amado e no longa de 1996 dirigido por Carlos Diegues, com Sônia Braga como Tieta e Marília Pêra como a própria dita cuja da personagem citada, não ganharam a proporção da maravilhosa Joana Fomm, na trama da TV de Aguinaldo. Na clássica novela, a personagem criada por Jorge Amado, ganhou uma nova transmutação disjuntiva por parte dos seguintes adaptadores. O que fica explícito a facilidade de criar na TV ou no cinema qualquer romance do nosso Shakespeare brasileiro, que já pensava em escrever as suas estórias imageticamente falando.

Recentemente, Aguinaldo, anda escrevendo um pouco mais o "cenário real" e afastou um pouco aquelas novelas que se passavam na terra do nunca, como uma cidadezinha meio inglesa (londrina) e bahiana, em que toda noite de lua cheia aparecia uma criatura engraçada, ao mesmo tempo que assustadora. E que lua era aquela? Parecia que ia esmagar a pacata cidade de tão grande. Um lugar com personagens que falavam um "embrometion" misturado com sotaque do nordeste.

Não exito em dizer , que ele é meu autor de telenovelas favorito, morro de rir com suas personagens insanas. Muita ficção, assumidamente fora da realidade, mesmo fazendo de tudo para mostrar um pouco do cotidiano real. Afinal a Dona Branca não agiu de má fé, segundo ela, quando usou o cartão corporativo da Universidade Pessoa de Morais. Só que é insano, ver a amante do seu falecido marido ter se infiltrado tanto na situação de acusação. O mais insano ainda é, desenvolver personagens que não são nem tão bons e nem tão maus, todos tem duas caras, de certa forma, aqui fora da telinha, a gente sente e vê o próximo e nós mesmos na mesma situação, dividida, como tudo na vida é em duas. Mas eu reconheço que novela é novela e ponto final. E tem mais, o vilão da estória vai sofrer muito, pagar pelo seus crimes, se redimir, mostrar a sua outra cara e ficar com a mocinha no final. Como é de praxe nos finais das tramas globais. Quem vai ficar com quem? Antes do autor por a palavra fim, o público brasileiro já sabe.

continua...

Rodrigo Mendes


Um comentário:

Márcio disse...

Isso se chama Realismo Mágico e não é somente da arte de Aguinaldo que estou falando....

Parabéns...

MR